Desigualdade
- David Baptista Farto

- 27 de jul. de 2023
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Desde que existe mundo, existe desigualdade. Da ancestral sociedade de
ordens à contemporânea sociedade de classes, a condição humana sempre
foi desigual. Lógicas hierárquicas de grupos e papéis sociais e a crença em
credos e em cores de pele superiores e inferiores explicam a persistência de
uma desigualdade estrutural que se reflete nos vértices da discriminação
socioeconómica, racial e de género. Durante muito tempo, essa desigualdade
foi concebida de modo intrínseco à natureza humana e, por conseguinte, das
sociedades. Durante demasiado tempo, o estudo da História interiorizou essa
“desigualdade orgânica” e apartou-a do seu discurso, ao privilegiar as grandes
figuras e os grandes feitos e, por oposição, negligenciar tudo o resto, que
simplesmente se considerava não ser merecedor de ser mencionado.
Lentamente, a história da gente de espinha curvada, dos sem rosto e sem
nome, dos sem eira nem beira, enfim, a história dos esquecidos e
desgraçados começou-se a fazer. Ontem, como hoje, é necessário continuar a
recordá-los. Mostrar e explicar as suas difíceis existências não é pretender
fazer uma historiografia reparatória ou justicialista, mas sim dar a conhecer
as lógicas e as estruturas que geram os mecanismos de reprodução e
perpetuação de desigualdades. É suscitar a reflexão sobre as infinitas matizes
que compõem a complexidade das relações humanas.
(Texto originalmente escrito para o Boletim Cultural do N.HIST, de março de 2021)

Camponeses lavrando ao pôr-do-sol
Estúdio Mário Novais, 1928 (Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian)
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