Lisboa, 26 de agosto de 2023 (sábado)
- David Baptista Farto

- 26 de ago. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 25 de set. de 2023
Em Espanha continua o absurdo. Perante as inegáveis evidências do ato de assédio cometido por Luis Rubiales durante os festejos da seleção espanhola na final do Mundial Feminino de Futebol, a RFEF, de forma inexplicavelmente macabra, veio a terreiro não só defender a vergonha do seu presidente, como ainda intimidar Jennifer Hermoso e as suas colegas, com a ameaça de abertura de processos na justiça. Tudo isto depois de cerca de 80 jogadoras, em solidariedade com Hermoso, terem anunciado publicamente que não regressariam à seleção espanhola, enquanto a atual direção permanecer em funções. No mundo do futebol, modalidade durante muito tempo reservada ao sexo masculino, joga-se pela defesa do elementar direito de as mulheres serem tratadas como seres humanos. À medida que o caso se desenvolve, crescem os ataques a Hermoso e às restantes jogadoras, num coro de comentários que se estende desde a misoginia primitiva até à ignorância pura. Por cá, o ex-candidato do Iniciativa Liberal à Câmara Municipal de Lisboa escreve que o "«Desporto Feminino» não é «Desporto Feminista»" e pede que este não seja "instrumentalizado por agendas ideológicas". Dizer o quê? Coitado, não dá para mais.
Entretanto, vejo nas notícias que a FIFA decidiu avançar com um processo disciplinar contra o dirigente desportivo espanhol e suspendê-lo por 90 dias. Leio também que o governo espanhol garante que a sua saída está por horas. Enfim, Rubiales já está demitido, apenas não o reconhece. Contudo, a reação da RFEF, expressada em comunicado, veio demonstrar claramente que o problema não se circunscreve apenas às atitudes do seu dirigente máximo. Revela, pelo contrário, uma estrutura desportiva que não hesita em colocar-se do lado do abusador homem contra a vítima mulher. Uma coisa é certa: todo o apoio a Rubiales, quer o ativo quer o silencioso, é cúmplice desta violência sexista, e merece ser denunciado.
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